terça-feira, 20 de abril de 2010

Entrevista à Prof. Susana Carvalho Sousa

A professora Susana está neste momento a dar aulas numa universidade em Delhi e tem-me ajudado na elaboração deste projecto enviando, por exemplo, algumas das fotografias presentes na "Exposição da Semana da Cor".

Quando e como é que tomou a decisão de ir para a Índia?
Em 2008 prestei as provas de admissão do Ministério dos Negócios Estrangeiros e depois fui escolhida pelo Instituto Camões para ser Leitora de Língua e Cultura Portuguesas na Universidade de Delhi. A escolha da Índia foi muito rápida, recebi um telefonema e aceitei a proposta porque me pareceu um desafio incrível.

Há quanto tempo está nesse país?
Estou a viver em Delhi há quase um ano.

Foi difícil encarar uma ideologia e uns princípios de vida tão distintos dos ocidentais? Nomeadamente o modo de vestir, as rotinas diárias, etc.
A adaptação depende das pessoas, a algumas custa imenso, a outras nem tanto. No meu caso, como já conhecia bem a Ásia, não foi um grande problema. Claro que a Índia é diferente de tudo, mas ainda assim foi uma passagem suave!
O ocidente sabe muito pouco sobre a realidade indiana, criou-se uma imagem demasiado exótica e distorcida da cultura e do povo. Também é verdade que os indianos conhecem mal a cultura ocidental, de modo que há que ser paciente e ter abertura suficiente para compreender os outros, formas diferentes de estar e viver, religião, mentalidade, papéis sociais, hábitos e costumes…
Pelo que já conheço, posso assegurar que é um país lindíssimo, com muita diversidade cultural, onde coexiste o moderno e o tradicional, onde tudo funciona em extremos, muito bem ou muito mal, riquíssimo ou miserável, justo ou injusto…
Resumindo, gosto mesmo muito de cá estar e tenho aprendido imenso com esta forma tão diferente de pensar o mundo.
Ah, e as roupas são tão giras!


O que é que considera ser o maior problema da comunidade indiana?
O maior problema do povo indiano é, segundo os próprios, o excesso populacional. Cada vez é mais difícil controlar as condições de vida dos mais desfavorecidos, aumentam as desigualdades, a pobreza e o número de pessoas que nada têm.
Em segundo lugar, a sociedade ainda é organizada num sistema hierárquico de castas. Têm sido tomadas muitas medidas positivas para mudar a mentalidade das pessoas, mas infelizmente é um processo muito lento. Saber que há pessoas que nem são consideradas cidadãs, que não têm quaisquer direitos, que nascem e morrem sem ninguém dar conta, este é, para mim, o mais difícil de diferir na Índia.


O que mais a fascina nesta cultura?
Muito sinceramente, tudo me fascina… Para mim, é o mundo ao contrário, nada é o que se espera nem o que parece.
Encanta-me a forma descontraída com que encaram os problemas, a paciência para a burocracia, a capacidade de trabalho, o sorriso fácil.
A música, os festivais tradicionais, as multidões, as cores, o calor, o ruído, tudo faz parte da cultura vibrante e «estranha» da Índia.


Sendo a gastronomia tão diferente da portuguesa conseguiu adaptar-se aos novos sabores?
A gastronomia é muito boa e variada. Grande parte dos indianos pratica vegetarianismo rigoroso, mas também há pratos de peixe, frango ou cabrito. Vaca e porco é que não!
Ora, quase todos os pratos são mesmo muito condimentados e extremamente picantes… Experimentem um Dhal Makhni (guisado de lentilhas), Palak Paneer (espinafres com queijo fresco indiano), Chicken Korma (à base de molho branco), Chanaa Masala (grão com tempero picante), Malae Kofta (queijo fresco recheado com legumes e frutos secos em molho de natas), Biryani (arroz com especiarias e legumes) e claro, Naan e Chapati (tipos de pão achatado).

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